Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselho Federal de Economia

Há algum tempo venho tratando nessa coluna do Jornal de Brasília obre a manipulação das informações econômicas pelos chamados economistas do mercado financeiro e por alguns maus jornalistas, salvo algumas exceções, entre as quais incluo este jornal. Matéria do JBr de 13/12 mostra que o ex-presidente Lula se disse estarrecido com a cobertura de alguns órgãos de imprensa, afirmando que “alguns jornais fazem uma análise da economia passando a impressão de que o País acabou”.

A leitura de algumas matérias nos leva a pensar que, se não se trata de “terrorismo econômico”, esses analistas e maus jornalistas têm sérios problemas com a matemática.

Senão, vejamos. Dizem que a inflação acumulada em 12 meses, de 5,77% (0,47% ao mês) está fora de controle. Ocorre que em 2002, último ano de FHC, quando ela foi de 12,53%, esses mesmos analistas não diziam o mesmo. Que matemática é essa onde 5,77% é pior que 12,53%? De fato, fora de controle esteve a inflação em 1993, quando acumulou 2.477,15% no ano.

Dizem que o Brasil está vulnerável em suas contas externas. Como assim, se em 2002 nossas reservas estavam em US$ 35 bilhões e devíamos US$ 20 bi ao FMI e atualmente temos reservas de quase US$ 400 bilhões e quitamos nossa dívida com o FMI? Que matemática é essa?

Falam que a atual dívida pública líquida, equivalente a 35% do PIB, ameaça o País, mas a dívida pública líquida de 60% em 2002 não ameaçava? Falam que o México, o “queridinho do mercado”, pois pratica o neoliberalismo e está privatizando seu petróleo, vai bem, mas, segundo a Cepal, ele vai crescer 1,3% esse ano, enquanto o Brasil vai crescer quase o dobro. Na matemática deles, 1,3% é melhor que 2,4%?

Poderíamos falar ainda das dificuldades dessa gente com os números sobre geração de empregos, aumento de renda etc. Felizmente a contagem de votos nas eleições é eletrônica, não passa pelas mãos dessa turma.

Jornal de Brasília,  sexta-feira, 20 de dezembro de 2013