Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Que os banqueiros e os grandes empresários do Brasil não morrem de amores pelo governo Dilma – e muito menos pelo PT – isso não é novidade. O pragmatismo os leva à convivência, mas sempre pressionando por uma política pró-capital e questionando as conquistas dos trabalhadores como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo e o Mais Médicos. Nos três últimos anos, os economistas liberais e a mídia oposicionista, além da usual deformação dos indicadores econômicos, dedicaram- se a criticar um suposto intervencionismo governamental na economia e um viés estatizante.
Trata-se, na verdade, de pressão, visando a obter benesses do governo, como as concessões ao setor privado da exploração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos; desonerações previdenciárias nas folhas de pagamentos; isenções tributárias para vários setores, como o automotivo e eletroeletrônico, e empréstimos subsidiados (PSI) concedidos pelo BNDES. E quanto mais o governo dá, mais se pede.
Mas a maior das pressões é relativa à política macroeconômica. Exige-se o aumento da taxa de juros, sob o falso pretexto de segurar uma inflação supostamente fora de controle; intervenções do Banco Central para impedir uma maior apreciação do dólar (fundamental para a competitividade de nossa indústria) e a ampliação do superávit primário. Infelizmente, o governo tem, em parte, cedido.
O povo brasileiro vem aprovando as mudanças em curso no país desde 2003 e não deseja retrocesso, pois o Brasil precisa crescer, gerando emprego, distribuindo renda e ampliando e melhorando os serviços públicos. Aceitar as imposições do mercado financeiro -taxa de juros elevada, câmbio apreciado e contenção do gasto público – trava o crescimento econômico do País, principal mote da direita para combater a permanência do atual modelo de desenvolvimento.
Jornal de Brasília, 06.02.2014