Júlio Miragaya Presidente da Codeplan e conselheiro do Conselho Federal de Economia

A Academia das Ciências da Suécia decidiu dividir o Prêmio Nobel de Economia de 2013, agraciando três economistas norte- americanos: Eugene Fama, Laren Hansen e Robert Shiller, os dois primeiros da escola de economia da Universidade de Chicago, famosa pela defesa do ideário neoliberal e, o último, da Universidade de Yale.

Shiller foi premiado por seus estudos que mostram o óbvio, ou seja, o comportamento irracional dos mercados, exposto em seu livro “Exuberância Irracional”. Escrito em 2000, pouco antes do estouro da chamada “bolha pontocom”, a qual previu, o estudo de Shillerfaz tem larga aplicação da psicologia comportamental.

Já o prêmio concedido à Fama deve ser creditado à força do pensamento conservador, pois o autor defende a hipótese oposta, dos “mercados eficientes”, isto é, que o preço de um ativo é sempre o preço certo (sic) e nega que o crash de 2008 é a comprovação de que os mercados são ineficientes. Fama reconhece que a volatilidade tem sido alta, mas afirma que é o que seria de se esperar em um mercado eficiente (sic).

Espero que Shiller possa emprestar seus instrumentos da psicologia comportamental para que possamos explicar a esquizofrênica escolha da Academia Sueca.

Como premiar um autor que vê funcionamento racional num mercado que mergulhou o mundo na maior crise econômica desde o crash de 1929? Talvez a existência de 400 milhões de desempregados e de 850 milhões de famintos no planeta não lhes tirem o sono.

Em certa ocasião, cobrado sobre as contradições entre sua teoria e o cenário de grave crise econômica, Fama declarou: “Eu achei que foi uma grande experiência que validou a teoria, mas fui a única pessoa que viu a coisa desse jeito”. Parece que os velhinhos da Academia das Ciências da Suécia também.

Brasília, sexta-feira, 25 de outubro de 2013  – Jornal de Brasília